Congostras

Congosta ou congostra, como variante galega, é um dos nomes empregues para denominar uma rua estreita e longa, um caminho estreito entre paredes ou cómaros: uma corga. Procede aí do latim coangusta, isto é, do prefixo cum mais o particípio angusta ‘estreita’, dando como resultado um apelativo que se manteve operativo até a atualidade, nomeadamente em áreas rurais.

A palavra angusta pervive nalgumas línguas romances, como no próprio galego-português angusto ‘estreito’, no espanhol angostar ‘fazer estreito’ ou no romeno îngusta, com o mesmo significado de estreiteza. E, como forma culta, também em angústia, que não é mais do que, literariamente, uma sorte de estreiteza sentida no ânimo, mas que pode ter aplicações na toponímia que vaiam além da evidência hagionímica da virgem das Angústias. Não deverá estranhar, pois, se, na realidade, as Angústias atuais forem, nalguns casos, puras ré-elaborações a cargo de bispados e outras hierarquias com capacidade para nomear. Será cousa de o estudar com mais pormenor.

Congostra de Penelas, perto da aldeia de Congostro, cº Rairiz de Veiga.

A prefixação cum- tem, neste caso, um valor superlativo que não é estranho na derivação latina, e que, para o caso que nos ocupa, vém significar “bem estreito”. Existem, com efeito, outras ocorrências toponímicas do mesmo valor do prefixo cum, bem estudadas por Miguel Costa: eis Conchouso, Conforto, Conguada ou a própria Compostela, que já tocamos neste caderno, e cujo valor semântico se alarga até relacionar-se com o conceito de necrópole como terra formosa, bem formada. Com elas, será necessário notar ainda a presença de Quingosta e Quingostas, topónimos a sul do Minho que remetem para uma variante portuguesa com realização -i- do -u- — a mesma variação que também temos no bairro viguês da Quiringosta, com epêntese expressiva, e noutros microtopónimos da área SO da Galiza atual.

Em qualquer caso, congostra ou congosta, que o mesmo tem, é particípio com função adjetival e tem, portanto, capacidade flexiva: daí que apareçam também Congostro (conc. Aranga, Rairiz de Veiga) e Congostrinha (conc. Barreiros) e, na microtoponímia, inúmeras ocorrências. Até, é necessário notar a presença de Alcongosta nas áreas do atual Portugal onde essa presença moçarábica foi suficiente para dar origem ao híbrido.

Enfim: há até um João das Congostras, um daqueles salteadores míticos que as crónicas localizam nas congostras da área de Gerês num tempo impreciso entre os séculos XVI e XIX, e que tem até uma lenda escrita na Pena de Anamão que diz:

Os pobres não o têm
e os ricos não o dão;
quem quiser assentar praça
venha à Pena de Anamão
com dous pesos diários
e um trabuco na mão.

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