A comarca da Arnoia — oficialmente, comarca de Alhariz-Maceda — inclui os concelhos de Alhariz, Banhos de Molgas, Maceda, Paderne de Alhariz, Junqueira de Ambia e Junqueira de Espadanedo. A comarca linda a leste com a terra de Ourense, ao oeste com a terra de Caldelas, a sul com a Límia e a sueste com a terra de Celanova; e possui dous pontos de referência geográfica importantes: o monte Pena Má (927m) e o rio Arnoia, que a atravessa de leste a oeste.
§ 1. Alhariz
Alhariz é, sem dúvida, o centro urbano mais importante da comarca e, como corónimo, possui umha extensom no vizinho Paderne, que é também de Alhariz, o que aponta para a sua importáncia referencial além dos seus próprios limites. Etimologicamente é bem fácil deduzir umha procedência de Aliarici, como genitivo de Aliaricus, cujo segundo elemento –rik– (*rīkjaz ‘forte, nobre’) leva imediatamente para a antroponímia germânica de que já falamos aqui. Há documentado, com efeito, Aliarico, que é caso pouco frequente, porém, válido, e que explicaria o /ʎ/ de Alhariz. Também se tem proposto um possuidor Alarico, mais frequente, mas que apenas poderia ter dado um *Alariz. De maneira que a uila Aliarici será a vila de Aliarico.
§ 2. Banhos de Molgas
Banhos de Molgas (graf. isol. Baños de Molgas) é, segundo Rodríguez Colmenero e outros, a mansio Salientibus do itinerário de Antonino. Como quer que fosse, no plano etimológico, este topónimo está composto por um primeiro elemento, Banhos, inteligível como outros Banhos (cf. Banhos de Bande), balneários, caldas, etc., relativamente comuns na Galiza e que, por isso, nom requer mais explicaçom; e por um segundo elemento, Molgas, que convém aclarar.
Molgas aparece com a forma atual em meados do s. XI:
presentia regis ipse Guttier et ille Tegino [Regino] in villa de Molgas
Celanova, 1058
Mas parece hápax (cf. Tegino, em lugar de Regino), se considerado
presentia regis ipse Guttier et ille Regino in villa de Amolgas
Celanova, 1058
e ocorrências posteriores da forma Amolgas até ao s. XIII:
acta karta apud Amolgas XVo kalendas nouembris. ERA M.CC.XXX.II. ego rex dominus Alfonsus hoc
Ourense, 1232
Para Bascuas (2002: 208-209), Amolgas proviria dumha raíz *am- ‘água’, presente também em Ámio, Amaía, Amoeja, Amoeiro, Amoedo, e outros. Ainda, penso que talvez -olgas seja nom um sufixo *-olicas, — que é o que mais comumente se tem proposto, sem dar mais explicaçons — mas um lema per se, proveniente do celta *(p)olca > *olga, com o significado de ‘terreno húmido [à beira de um rio]’ (cfr. Acenha de Olga, Lugo, à beira do Minho; ou o castelhano Huelgas), concitando novamente a referência hidronímica. Estaríamos, portanto, perante um sumatório de banhos + *am- + *(p)olcas, perfeitamente concertado no seu significado. Daí, a perda do a- inicial, que se deveu produzir entre o s. XI e inícios do s. XIII, também nom resulta incabível.
§ 3. Maceda
A etimologia de Maceda provém, com probabilidade, do latim vulgar *mattianeta, isto é, ‘bosque de maceiras, pomar’. A procedência é latina, mas Coromines e outros apontaram a possibilidade de, já no latim, ter procedência céltica, relativa à raiz *mati– ‘bom, propício’.
Desse modo, *mattiana, que dá em galego-português maçá, seria o fruto do bom tempo, o que se dá em latitudes com clima temperado. E Maceda referiria um cultivo de maçás. O aqui dito é válido também para o concelho de Maceda de Trives, barbaramente castelhanizado (e oficializado pola proposta isolacionista) como Manzaneda, e também para outras ocorrências deste topónimo — que, carateristicamente, só se encontra na metade oriental da Galiza (cos Palas de Rei, Melide, Corgo e Riós).
§ 4. Paderne de Alhariz
Sem explicar novamente Alhariz, Paderne apresenta um topónimo também antroponímico, derivado neste caso de Paterni, genitivo de Paderno ou Paterno, o possuidor. O antropónimo aparece amplamente documentado, mas de maneira especial em feminino, de modo que até poderíamos estar perante um Paternae, com reduçom do ditongo final perfeitamente normativa. Padernes, com efeito, há outros, na mesma Galiza (cº Paderne, cº Betanços) e em Portugal, como junta de freguesia no cº de Albufeira (dº Faro).
§ 5. Junqueira de Ambia
A nome Junqueira nom apresenta qualquer dificuldade: é apelativo e, aliás, tem presença relativamente alargada na Galiza e em Portugal, com proveniência do lat. iuncaria, isto é, lugar onde abundam os juncos. Os juncos (género juncus), em qualquer caso, nom som muito comuns na fachada atlántica europeia, de modo que, neste caso, os reparos com que devemos tratar os fitotopónimos nom fam, provavelmente, tanto sentido.
Quanto a Ambia, diz Corominas que seja o nome antigo do rio Arnoia, que é o principal da comarca, mas, como reconhece Moralejo Lasso, há que dizer que nom há provas documentais. O que parece certo é que, etimologicamente, esteja relacionado com o tema céltico *ambas- ‘água’ de que já falamos neste caderno. Tendo presente que os juncos som, sempre, espécies próprias de áreas alagadas, e que aqui teríamos, por ambia, um lugar bem húmido, a concordáncia resulta evidente e reforça esta hipótese para Ambia.
§ 6. Junqueira de Espadanedo
Nesta mesma comarca, Junqueira de Espadanedo (med. Iuncarie de Spataneto — Ourense, 1282) comparte o fitotopónimo, que já se explicou.
O segundo elemento, Espadanedo, responde também provavelmente a um fitotopónimo coletivo, relacionado com as espadanas (género typha), próprias, como os juncos, de humidais e zonas lacustres.